sexta-feira, janeiro 30, 2009

Post de Introdução ao Post.

Hoje cheguei à empresa, atrasada pra variar, e me disseram que as recepcionistas estavam em treinamento para melhorar o atendimento aos clientes e mais um bla blá blá que meus ouvidos fizeram questão de ignorar. O fato é que alguém precisava ficar lá no lugar delas e por uma dessas rasteiras inexplicáveis do destino, este alguém veio a ser esta que vos escreve. Entre o pânico absoluto provocado pela perspectiva de ficar algumas horas longe do meu computador e a possibilidade de passar uma agradável manhã de ócio, onde a minha maior preocupação seria sorrir amarelo para os viventes que adentrassem o recinto, fiquei com a segunda opção. Depois de ler todas as Caras e Vogues que estavam por perto e concluir que eu não posso comprar uma bolsa que custa o mesmo que um carro e que meus peitos são menores que minha cabeça, comecei a ficar entediada. Olhei para um bloquinho de post it e ele me olhou de volta com um sorrisinho safado, igualmente amarelo, no canto da boca. Ok, peguei o bloco e me pus a fazer uma daquelas coisas que se alguém assiste, no mínimo acha que você sofre de graves problemas mentais: comecei a escrever freneticamente naquelas folhas miúdas. Cada cliente que entrava ou saia me retornando aquele sorriso falso, mudava de expressão ao perceber a alta pilha de folhinhas amarelas desafiando a física ao meu lado no balcão. Pilha esta que até poderia ter ficado menor, mas eu não escrevo no verso. O TOC disse: ‘O verso é atrás, faz sombra e tem cola. Não se escreve no verso. ’ Achei melhor obedecer, vai que ele me obriga a contar os carros enquanto vou para casa?! Mas enfim, esta é apenas uma introdução (a ser devidamente ignorada) para o que veio a ser o post it em si:

Implicações da Solteirice – A perda

Um psicólogo israelense chamado Daniel Kahneman, ganhador do prêmio Nobel de economia em 2002 (o cara é especialista em Teoria da Finança Comportamental, que não tem absolutamente nada a ver com o assunto aqui apresentado), provou através de seus estudos que sofremos muito mais com as perdas do que nos alegramos com os ganhos e vitórias. Não que um diploma de psicologia seja necessário para perceber isso, mas o estudo foi importante para provar por A mais B que somos uns reclamões mal agradecidos.

Ao término de uma relação, ainda que a decisão tenha partido de você, o sentimento de perda é inevitável. Acaba-se por pesar pensar demais no próprio fracasso em conviver com outra pessoa e manter este relacionamento saudável, bem como na incapacidade do OUTRO para o cumprimento da mesma tarefa hercúlea. Não digo apenas por experiência própria, mas também por alheia: são raríssimos os casos em que seja possível manter um laço de amizade com um ex, especialmente se foi você que meteu o pé na bunda deu um fim na relação.

Nessas horas as lembranças dos momentos bons e a experiência adquirida acabam mesmo não significando muita coisa. O processo de tornar-se um estranho para alguém que te conhece muito bem é lento e catártico, mas não precisa necessariamente ser doloroso. Encare este momento como um tempo só para você, uma pausa para recuperar a sua individualidade. Você não precisa mais fazer concessões para agradar a ninguém, é a hora de ir onde gosta, quando quiser, assistir o filme que te aprazir (isso inclui aquele romance iraniano sem legendas) e chafurdar nos livros que você nunca leu por falta de tempo. Experimente, pela primeira vez em muito tempo, não fazer NADA. Encare uma manhã de sábado sozinho em casa, de pijamas, cabelos desgrenhados e maquiagem de panda da noite anterior, assista Doce Novembro de novo e chore cada lágrima, sem vergonha de ter alguém olhando e coma todo o chocolate que você puder quiser aguentar. Parece deprimente né? Mas é o primeiro passo para aceitar a perda e começar a conviver bem com a única pessoa de quem você não pode se separar...

E adivinhem? CONTINUA...

terça-feira, janeiro 27, 2009

Implicações da Solteirice

'Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo'



Daí você toma aquela dose extra de coragem ou de vodka e resolve por um fim no seu relacionamento. Ótimo, agora tem mais tempo para investir em seus projetos pessoais, para se cuidar, trabalha mais focado e se atualiza. No começo, munido da sua recém adquirida autoestima e força interior dignas de Steven Seagal, você acha que aquele mundo novo que se descortina diante de seus olhos incrédulos é todo feito de oportunidades imperdíveis, assim como os anúncios das Casas Bahia. Acredita que seu final de semana tem 72 horas, tempo mais que suficiente para arrumar a casa, cozinhar, cuidar do cabelo, das unhas, dos gatos, ler seus feeds, e-mails, jornais da semana passada, bulas de calmantes, organizar a gaveta de calcinhas por cor e ainda estar linda e deslumbrante à noite para aquele chopinho com as amigas.

B-A-L-E-L-A. Você passa tanto tempo buscando resgatar sua vida social, abandonada desde o período pré-cambriano, na esperança de suprir a falta que a outra metade da laranja te faz, que no fim todo o seu tempo livre é gasto ao telefone (blasfêmia!) ou em redes sociais, quando não prostrado em frente à tevê assistindo reprises de séries dos anos noventa e fugindo feito diabo da cruz de famigeradas comédias românticas... Você assiste desesperado à sua derrocada, enquanto se torna um boneco de Judas recheado de bolinhas de isopor que passa 20 horas por dia hipnotizado pela luz do monitor.

Passada a euforia inicial com aquela dose cavalar de liberdade que cai repentinamente em seu colo e com a qual você não faz a menor idéia de como lidar, é chegada a hora de começar a se preocupar com as questões filosóficas de difícil solução que cercam a solteirice. A primeira delas é a solidão. Seus amigos, novos e velhos de guerra, são legais, compreensivos e engajados na árdua tarefa de não permitir que você se torne uma deprimida que assiste novela e come Nutella do copo usando o dedo indicador, mas eles não são O OUTRO. O outro faz parte de você, mas não está EM você, salvo duas ou três vezes por semana, quando o prognóstico é favorável. Alguns autores preferem classificar este ser que descrevo como organismo simbiótico. Você é você mesmo o tempo todo na frente da sua extensão, com todos os desastres íntimos que isso implica, ela por sua vez parece desenvolver imunidade a isso e ambos seguem felizes (?) nessa relação de co-dependência, até que uma das partes siamesas resolva realizar uma autoamputação e cair no mundo.


CONTINUA (sim, isso vai render).

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Pesadelo.

Era chegado meu primeiro dia. Não achei, apesar de tanta observação, pesquisa e estudo durante meses a fio, que fosse encontrar uma cena daquelas logo no meu primeiro caso. O agente mais experiente, a quem eu via como uma espécie de mentor, seguia logo atrás de mim, chamando a minha atenção para um ou outro detalhe. Era bem mais alto que eu e trajava um terno cinza que parecia ser de um tamanho menor que o ideal. Sua sombra projetada no chão à minha frente transmitia uma sensação de segurança que era quase opressora. Eu sabia que ele estava ali para me orientar, embora ao mesmo tempo me sentisse a novata inexperiente pronta para estragar tudo.

E foi assim que eu comecei, estragando a cena. Movi acidentalmente a vassoura que me impedia de abrir a porta num ângulo mais confortável, derrubando também uma cadeira que estava logo atrás. Os outros agentes entreolharam-se com ar de desdém e eu só queria um meio de me tele transportar dali. Mas segui em frente, ainda que embaraçada, ditando os detalhes que considerava importantes e tentando não me chocar com o ambiente em volta: um pequeno conjugado, numa viela estreita, apesar de bem iluminada. Poucos móveis, todos fora de lugar, lençóis e travesseiros espalhados a esmo. Uma cama grande com gavetas dominava o ambiente, restringindo nosso avanço até os outros dois cômodos: uma pequena cozinha e um banheiro. Papéis espalhados sobre a cama completavam o cenário. O corpo, feito em pedaços, fora cuidadosamente depositado nas gavetas da cama, mas não fora esquartejado de forma que fosse possível fechá-las. Por isso, apesar da bagunça reinante no local, as gavetas semi-abertas exibiam o único detalhe que evidenciava que um crime fora cometido ali. Havia duas possibilidades: ou o assassino sumira com a arma do crime e com toda a sujeira que deveria haver após o homicídio ou ele apenas havia depositado o corpo ali, o que não explicaria a mobília desalinhada e os objetos espalhados pelo chão e pela cama.

Enquanto seguia fazendo minhas observações sobre o ocorrido, adentrando a ínfima cozinha que parecia ter sido atingida por um tufão, percebi um silêncio repentino. Virei-me para o quarto e me deparei com um cenário perturbador: os três agentes que me acompanhavam, além dos dois peritos que recolhiam evidências no local, jaziam inertes no chão, com uma inconfundível expressão de terror em suas faces, olhos arregalados sem vida e suas bocas haviam se tornado um borrão disforme, que imortalizara a intenção de um grito.

De pé contra o sol da manhã, sob o batente da porta aberta, estava um sujeito muito alto, de compleição forte. Mesmo com a claridade que me impedia de vê-lo em maiores detalhes, eu sabia que ele me fitava diretamente nos olhos, sem desviar o olhar ou piscar. Meu primeiro reflexo natural seria sacar minha pistola, mas havia algo de estranho com aqueles olhos. Parecia que o tempo havia congelado desde que ele entrara no recinto. A própria poeira pairava lenta pelo quarto sem pousar em nada. O ar estava estático e mesmo os sons da rua pareciam ter desaparecido.

Ele começou a avançar vagarosamente em minha direção, sem nunca desviar o olhar que me aterrorizava a ponto de não permitir que eu me movesse. Segurou-me pelo pescoço e me levantou do chão como se eu nada fosse. Nesse momento notei uma pequena alteração em seu olhar, parecia incrédulo, como se algo fugisse aos seus planos. Ouvi um som familiar e olhei para o lado. Era meu celular que tocava sobre a cama. Nesse momento eu acordei, estiquei o braço e atendi a ligação dele, ainda assustada com o pesadelo que acabara de ter.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Não te amo mais. Adeus.

Esse final de semana foi daqueles de me virar de cabeça para baixo. Eu teria até arrancado a cueca pela cabeça, se eu usasse cuecas.

Já na sexta-feira engasguei-me com o clima de velório reinante em meu relacionamento, que alternava momentos de ‘meu chuchu, meu buzunguinho’ com uma guerra-fria de fazer inveja na União Soviética e nos EUA. Quando coloquei para fora aquela dor numa automanobra de Heimlich desesperada, tudo que saiu foi um duro e seco: ‘Não sei se ainda gosto de você’, acidentalmente inspirado em Alice Ayres, de Closer. E quando o amor acabou eu sentei calmamente à meia luz e li uma Vogue, porque eu sofro, mas sou uma diva acima de tudo.

‘Sente dor, mas não chora. Sabe que o amor tem hora pra chegar e pra partir... ’

Ainda na sexta, resolvi afogar as mágoas. Barzinho agradável, ombro-amigo a postos para qualquer eventualidade e uma banda de samba e MPB que era pra ser de jazz. Mas tudo bem, vamos de samba e MPB (nessa hora rezei em silêncio, pedindo para que escolhessem músicas que não falassem de amor). E a banda, alheia à minha situação, já começa com:

‘Todo dia ela faz tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã... ’

Engulo em seco e acendo outro cigarro. O garçom me olha com cara de misericórdia e eu aceno que quero outro chope. Ele atende prontamente. E começa ‘a circular o expresso 2222 que parte direto de Bonsucesso pra depois... ’. Parecia que a banda estava pegando o espírito da coisa. Parecia que EU estava pegando o espírito da coisa, estava começando a sorrir, falar besteira e fazer amizades de infância na fila do banheiro.

A conversa estava animada, eu estava me sacudindo na cadeira e o garçom parecia especialmente obstinado a me embebedar naquela noite. Ingênua, mal sabia o que me esperava. Uma long neck, cinco chopes, nove cigarros e uma tábua de frios depois, quando voltava da minha quarta ida ao banheiro (cerveja é diurético, ok?) percebi que havia algo errado. Eu reconhecia aqueles primeiros acordes que doíam na alma. Parecia que o chão estava se abrindo à minha volta e não era só porque eu estava um pouco bêbada. Caminhei até minha mesa com o mínimo de coordenação motora que me restava e agarrei minha bolsa com força, sob protestos da minha amiga e dos agregados que chegaram depois. Despedi-me, ou pelo menos creio que o fiz, e saí tropeçando nas mesas pelo caminho, enquanto o vocalista da banda cravava mais fundo nas minhas costas o punhal da dor de cotovelo...

‘Passas em exposição. Passas sem ver seu vigia, catando a poesia que entornas no chão... ’

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Mea culpa

Conhece alguém que exige que as coisas sejam feitas exatamente à sua maneira? Que tem um surto psicótico quando algum detalhe sai diferente do que foi planejado? Que se atreve a dar pitaco até no seu corte de cabelo e nas suas amizades? Que não suporta que você tenha vida própria, longe de seus olhos inquisidores? Minhas condolências, você conhece um control freak.

E se você conhece alguém assim e também conhece a esta que vos escreve, então sinto duplamente: você conhece dois control freaks. Eu sei que isso é vergonhoso e totalmente inaceitável, além de muito, muito feio. Mas a sensação de poder ao estar no controle é tão... inebriante. Você acaba sucumbindo ao hábito e quando percebe não está apenas controlando seu espaço, seu trabalho e aqueles poucos infelizes que se encontram próximos a você. Logo começa a escolher com que roupa sua amiga vai sair, com quem o pobre diabo do seu namorado pode e não pode falar e até os lugares que você prefere que os outros frequentem, delicadamente indicados por você, claro.

Geralmente a mania patológica de controlar tudo à sua volta não tem maiores consequências, especialmente quando confundida com TPM ou crise de pelanca, no caso das ameaças ambulantes do sexo feminino. Porém, existem aqueles momentos de completa ausência de bom senso em que você pode chegar a extremos, como por exemplo, escanear o histórico de ligações do celular alheio (não me refiro a ciúmes) e até levantar a ficha da rede social de alguém (também não me refiro exclusivamente a Orkut e afins). Você percebe, a esta altura já ciente e em processo de negação de seu distúrbio comportamental, que está se utilizando de meios pouco ortodoxos na tentativa, nem sempre frustrada, mas sempre frustrante, de manipular tudo que acontece ao seu redor. Ao menor sinal de falha, sua reação super adulta e bem resolvida é ficar com um bico do tamanho da pedra da Gávea e fazer birra com o mundo por, vejamos... duas horas no máximo.

Todo mundo tem alguma desordem de personalidade hoje em dia. Quando não tem, inventa. Seja para estar na moda ou para ter uma desculpa sempre na ponta da língua para aquela cagada miserável que cometeu. Não desmerecendo aqueles que realmente são pancadas das idéias, mas é tão mais fácil dizer ‘Eu sou bipolar’ do que ‘Não tô com saco pra ouvir sua voz hoje, some.’ Ou ainda ‘Eu tenho depressão’ ao invés de ‘Não quero trabalhar, não gosto de banho e definitivamente não vou pentear o cabelo.’ Talvez se deva ao fato da segunda opção, em ambos os casos, não ser socialmente aceitável. Mas peguem leve comigo, decidi já há algum tempo, em nome da minha sanidade mental, que me alforriaria de minha própria esquisitice. Não quero escolher mais nem sabor de sorvete. Só por hoje...

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Supérfluos de primeira necessidade...

Este é um post mulherzinha. Dizem que quem avisa amigo é, certo? Então, como sou muy amiga já vou dizendo: se você não é ou não gosta de mulherzinha, faça um favor a si mesmo e vá perder 5 minutos com outra coisa qualquer. Sei lá, apare os pêlos do nariz, faça dreads nos cabelos do sac... digo, escroto, tire aquela casquinha nojenta que você tem atrás da orelha. Ou vá assistir a uma reprise de Two and a Half Man, como eu mesma sempre faço nesses inevitáveis momentos de ócio. E me perdoem os hífens ou a falta deles. Ainda estou me acostumando, esse é um processo lento.

Eu peço licença para desabafar. Venho aqui humildemente para falar sobre uma fraqueza da qual eu não me orgulho, e vocês entenderão por que. Nunca fui uma Barbie siliconada com luzes no cabelo, cílios postiços e unhas de porcelana, sou daquelas que têm aversão a salto alto, que bebem do gargalo e fazem campeonato de arroto com os amigos. Meu nome é Joice Viana e eu não compro artigos de higiene pessoal há 3 horas e 36 minutos.

É, eu sou uma farmáciaholic ou perfumaria addicted. Toda vez que eu vou à farmácia, ao supermercado ou a qualquer loja de departamentos, me perco na sessão de perfumaria e por nada nesse mundo quero ser encontrada. É uma profusão de perfumes, texturas e cores que me deixa tonta. Por mais que eu tenha ido comprar uma caixinha de cotonetes eu acabo levando xampu para cabelos secos, oleosos, mistos, tingidos e com permanente, desodorante aerossol antitranspirante edição limitada com embalagem supertransada e fórmula que não mancha a roupa, spray condicionador leave-in anti frizz com filtro solar (totalmente desnecessário se você vive em Petrópolis), bloqueador solar FPS 50 com agente especial azul (que eu ainda não descobri o que é, mas se for um detetive loiro de uniforme azul cobalto que vai espalhar o filtro solar em mim, ótimo). Eu tenho até o despeito de comprar esmalte vinho bordô, só me faltam as unhas. Tenho duas delas na mão direita que estão razoavelmente compridas. Ok, não. Mas também não se comparam aos cotocos dos outros dedos. Estou guardando estas duas para roer num momento de estresse extremo, onde toda a minha habilidade de transferir responsabilidades e trabalhar com prazos apertados seja colocada à prova.

Acabei trazendo também prendedores de cabelo com glitter, condicionador sem enxágue para cabelos longos (o que não é exatamente o meu caso) e hidratante corporal com mel. Sabonete líquido hidratante com flor de cerejeira e absorventes, pois a gente nunca sabe... mentira, a gente sabe sim. Especialmente se você toma anticoncepcional. Aí você tem dia e hora marcados. Claro que eu não podia me esquecer do líquido para lentes de contato, mas adivinhem?! Eu esqueci! Deve ser porque ele não tem cheirinho, nem embalagem bonita, nem cores e texturas e muito menos glitter. O jeito agora é colocar as lentes no soro fisiológico e torcer para que elas não se desintegrem até amanhã e que este ambiente propício à criação de armas biológicas de destruição em massa não permita que formas de vida do reino monera, ainda desconhecidas, proliferem-se lá dentro ao som de salsa enquanto eu durmo inocentemente.

Acabei saindo com duas bolsas de tranqueiras, sessenta e oito reais mais pobre e sem aquele artigo de primeira necessidade, pelo qual estava originalmente procurando.
Agora, se me dão licença, estou indo tomar um banho relaxante de três horas e meia, onde poderei experimentar cada umas das muitas porcarias inúteis que comprei. Desejem-me sorte para que meus cabelos não caiam e eu não seja intoxicada lá dentro.

Carne available.

E cá estamos nós, 05/01/2009, o ano entrou sorrateiramente e eu nem senti (essa eu deixei quicando, é só chutar). Amanhã começa a correria de fato, pois as últimas semanas foram de um intenso empurrar com a barriga. Tenho trabalhos cujos deadlines venceram lá pelos idos de novembro e não tenho a menor vontade, inspiração ou iluminação divina para tirá-los da temida pasta sanfonada com 12 partições, chamada 'Pendências'. Aliás, fica a pergunta: partições ou repartições? Prefiro que sejam partições, pois repartições me lembram cargos públicos, que me lembram que eu não tenho um, o que me deprime instantaneamente.

Mas voltemos ao post...

Assombra-me a idéia de que minha próxima folga gorda será apenas no carnaval, data que eu não amo, mas que pelo simples fato de não precisar trabalhar, já vale cada cantada suja que eu ouço de bêbados suados, úmidos e pegajosos pelas ruas da minha igualmente úmida e pegajosa cidade. Não, eu não sou uma beldade, mas qualquer vulto que lembre vagamente uma figura feminina corre o mesmo risco nessa época do ano. O carnaval deveria ser mais bem definido em dicionários e enciclopédias.
Algo do tipo: Carnaval - Substantivo grupal de sexo indefinido. Ou substantivo indefinido de sexo grupal.
Definição: Festa popular (o 'popular' por si só, já deveria causar terror) realizada no mês mais quente do ano, quando as pessoas estão propensas a criarem fungos nas axilas e em outras reentrâncias do corpo. Quando ocorre, todos os que possuem gosto duvidoso saem para exibi-lo nas ruas, vielas, avenidas, escadarias escusas, clubes de quinta categoria e outros locais pouco ortodoxos. É quando você ajuda seu amigo a se vestir de mulher e percebe que ele fica melhor naquele vestido do que você. Geralmente você também nota que os esforços da prefeitura para fazer do carnaval da sua cidade algo que pelo menos de longe e sob efeito de álcool pareça divertido, falharam miseravelmente. É quando você veste o que não devia vestir, bebe o que não devia beber, come o que e quem não devia comer e acorda do lado de uma bruxa descabelada com bafo de bacalhau ao óleo de fígado de bagre que você não conhece, mas que provavelmente te parecia bem mais interessante ontem. Curto período do ano em que exemplares da raça humana em idade reprodutiva, livres de compromissos conjugais (ou não), momentaneamente privados de suas faculdades mentais devido ao consumo desenfreado de aditivos químicos de toda sorte praticam livremente a auto-sabotagem. Eu sempre desconfiei que aquela lágrima do Pierrô não fosse devido ao perdido que levou da Colombina e sim de desgosto por ser ícone dessa festa.

Mas, a despeito de tudo isso, é época de folga. FOLGA. Significa sem trabalho de nenhum tipo por quase uma semana. Pernas pra cima, moleza, acordar após o meio-dia, desligar o celular, caso sua chefe tome certas liberdades, como por exemplo, ligar para você sábado às nove da manhã. Se por alguma cretinice do destino você é daqueles que precisa trabalhar no carnaval, apele para a diarréia. Se a diarréia não amolecer o impenetrável coração de chumbo do seu superior, quebre uma perna! Ainda te sobra a outra para pular e dançar as músicas de gosto duvidoso, as muletas te darão um apoio extra quando você, bêbado feito um guaxinim, não conseguir chegar em casa e ainda de quebra você pode despertar algo nas mulheres, nem que seja compaixão pelo sofrimento de ser um folião perneta.

Mas eu vou. Daqui a algumas horas encararei bravamente mais um dia naquele antro, aquela linha de produção de perdedores deprimidos. Farei o meu melhor com a esperança de que em pouco mais de um mês terei a doce ilusão de liberdade de novo, ainda que sob condições adversas, como as citadas acima.

Esse foi apenas mais um post 'enche-linguiça', patrocinado por Nescafé.