E cá estamos nós, 05/01/2009, o ano entrou sorrateiramente e eu nem senti (essa eu deixei quicando, é só chutar). Amanhã começa a correria de fato, pois as últimas semanas foram de um intenso empurrar com a barriga. Tenho trabalhos cujos deadlines venceram lá pelos idos de novembro e não tenho a menor vontade, inspiração ou iluminação divina para tirá-los da temida pasta sanfonada com 12 partições, chamada 'Pendências'. Aliás, fica a pergunta: partições ou repartições? Prefiro que sejam partições, pois repartições me lembram cargos públicos, que me lembram que eu não tenho um, o que me deprime instantaneamente.
Mas voltemos ao post...
Assombra-me a idéia de que minha próxima folga gorda será apenas no carnaval, data que eu não amo, mas que pelo simples fato de não precisar trabalhar, já vale cada cantada suja que eu ouço de bêbados suados, úmidos e pegajosos pelas ruas da minha igualmente úmida e pegajosa cidade. Não, eu não sou uma beldade, mas qualquer vulto que lembre vagamente uma figura feminina corre o mesmo risco nessa época do ano. O carnaval deveria ser mais bem definido em dicionários e enciclopédias.
Algo do tipo: Carnaval - Substantivo grupal de sexo indefinido. Ou substantivo indefinido de sexo grupal.
Definição: Festa popular (o 'popular' por si só, já deveria causar terror) realizada no mês mais quente do ano, quando as pessoas estão propensas a criarem fungos nas axilas e em outras reentrâncias do corpo. Quando ocorre, todos os que possuem gosto duvidoso saem para exibi-lo nas ruas, vielas, avenidas, escadarias escusas, clubes de quinta categoria e outros locais pouco ortodoxos. É quando você ajuda seu amigo a se vestir de mulher e percebe que ele fica melhor naquele vestido do que você. Geralmente você também nota que os esforços da prefeitura para fazer do carnaval da sua cidade algo que pelo menos de longe e sob efeito de álcool pareça divertido, falharam miseravelmente. É quando você veste o que não devia vestir, bebe o que não devia beber, come o que e quem não devia comer e acorda do lado de uma bruxa descabelada com bafo de bacalhau ao óleo de fígado de bagre que você não conhece, mas que provavelmente te parecia bem mais interessante ontem. Curto período do ano em que exemplares da raça humana em idade reprodutiva, livres de compromissos conjugais (ou não), momentaneamente privados de suas faculdades mentais devido ao consumo desenfreado de aditivos químicos de toda sorte praticam livremente a auto-sabotagem. Eu sempre desconfiei que aquela lágrima do Pierrô não fosse devido ao perdido que levou da Colombina e sim de desgosto por ser ícone dessa festa.
Mas, a despeito de tudo isso, é época de folga. FOLGA. Significa sem trabalho de nenhum tipo por quase uma semana. Pernas pra cima, moleza, acordar após o meio-dia, desligar o celular, caso sua chefe tome certas liberdades, como por exemplo, ligar para você sábado às nove da manhã. Se por alguma cretinice do destino você é daqueles que precisa trabalhar no carnaval, apele para a diarréia. Se a diarréia não amolecer o impenetrável coração de chumbo do seu superior, quebre uma perna! Ainda te sobra a outra para pular e dançar as músicas de gosto duvidoso, as muletas te darão um apoio extra quando você, bêbado feito um guaxinim, não conseguir chegar em casa e ainda de quebra você pode despertar algo nas mulheres, nem que seja compaixão pelo sofrimento de ser um folião perneta.
Mas eu vou. Daqui a algumas horas encararei bravamente mais um dia naquele antro, aquela linha de produção de perdedores deprimidos. Farei o meu melhor com a esperança de que em pouco mais de um mês terei a doce ilusão de liberdade de novo, ainda que sob condições adversas, como as citadas acima.
Esse foi apenas mais um post 'enche-linguiça', patrocinado por Nescafé.