terça-feira, janeiro 27, 2009

Implicações da Solteirice

'Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo'



Daí você toma aquela dose extra de coragem ou de vodka e resolve por um fim no seu relacionamento. Ótimo, agora tem mais tempo para investir em seus projetos pessoais, para se cuidar, trabalha mais focado e se atualiza. No começo, munido da sua recém adquirida autoestima e força interior dignas de Steven Seagal, você acha que aquele mundo novo que se descortina diante de seus olhos incrédulos é todo feito de oportunidades imperdíveis, assim como os anúncios das Casas Bahia. Acredita que seu final de semana tem 72 horas, tempo mais que suficiente para arrumar a casa, cozinhar, cuidar do cabelo, das unhas, dos gatos, ler seus feeds, e-mails, jornais da semana passada, bulas de calmantes, organizar a gaveta de calcinhas por cor e ainda estar linda e deslumbrante à noite para aquele chopinho com as amigas.

B-A-L-E-L-A. Você passa tanto tempo buscando resgatar sua vida social, abandonada desde o período pré-cambriano, na esperança de suprir a falta que a outra metade da laranja te faz, que no fim todo o seu tempo livre é gasto ao telefone (blasfêmia!) ou em redes sociais, quando não prostrado em frente à tevê assistindo reprises de séries dos anos noventa e fugindo feito diabo da cruz de famigeradas comédias românticas... Você assiste desesperado à sua derrocada, enquanto se torna um boneco de Judas recheado de bolinhas de isopor que passa 20 horas por dia hipnotizado pela luz do monitor.

Passada a euforia inicial com aquela dose cavalar de liberdade que cai repentinamente em seu colo e com a qual você não faz a menor idéia de como lidar, é chegada a hora de começar a se preocupar com as questões filosóficas de difícil solução que cercam a solteirice. A primeira delas é a solidão. Seus amigos, novos e velhos de guerra, são legais, compreensivos e engajados na árdua tarefa de não permitir que você se torne uma deprimida que assiste novela e come Nutella do copo usando o dedo indicador, mas eles não são O OUTRO. O outro faz parte de você, mas não está EM você, salvo duas ou três vezes por semana, quando o prognóstico é favorável. Alguns autores preferem classificar este ser que descrevo como organismo simbiótico. Você é você mesmo o tempo todo na frente da sua extensão, com todos os desastres íntimos que isso implica, ela por sua vez parece desenvolver imunidade a isso e ambos seguem felizes (?) nessa relação de co-dependência, até que uma das partes siamesas resolva realizar uma autoamputação e cair no mundo.


CONTINUA (sim, isso vai render).

10 comentários:

  1. Tudo que eu posso dizer é que tu sobrevive, e que eu tô aqui. Nem que seja pra cair de bicicleta e te fazer rir.

    O umbigo foi cortado quando tu nasceu. Ajeita os peitos e vai à luta.

    Ainda que eu não diga muito (eu quase nunca digo), eu te amo.

    :*

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  2. A quem interessar possa, o trecho inicial em itálico pertence à letra de Vênus, por Paulinho Moska.

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  3. Joice, ainda nao li seu post, mas CHOREI DE RIR COM SEU COMENTÁRIO.

    Muito, muito, muito bom!

    :D

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  4. Ih, isso é papo de quem morre de saudades do OUTRO ;X

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  5. É Talita, isso é papo de quem ainda gosta do OUTRO auhauhuha

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  6. acho que a gente sempre vai gostar do outro. a não ser que a gente seja uma pedra ou um pedaço de pau. só que a gente precisa fazer isso pra ver se dá. e é difícil arrumar gente que realmente acrescente. mas sempre tem tempo. e cada vez mais, acho que nada é definitivo e tudo é inevitável.

    muito (muito meeeesmo) prazer em conhecê-la, joice.

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  7. Você escreve muito bem, com bastante estilo. Esteja certa de que retornarei. Beijos e parabéns.

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  8. Isso não pode ser o popular "costume"?

    Pq é isso q geralmente incomoda mais qdo se termina um namoro. A falta de uma companhia.

    Depois passa e a gente ve que nós nos bastamos.

    É um caso de autotrofismo sentimental

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  9. É por essas e outras que eu vou entrar no site da Gol agora e...

    =/

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