Este post é dedicado a você, mulher moderna, profissional respeitável
Primeiro passo: Removendo o esmalte
Caso você esteja ainda com o esmalte da semana passada, aquele vermelhão Vila Mimosa parcialmente descascado (o que te dá de brinde um letreiro piscando em letras garrafais a palavra DESLEIXO sobre a sua cabeça), comecemos por removê-lo. Com os dentes. O momento ideal para fazê-lo é no ponto de ônibus, após o trabalho, naquela fila interminável que cheira a frango de padaria, desodorante vencido e pão fresco. É importante utilizar apenas os incisivos centrais superiores e inferiores, que são especialmente indicados para a remoção de esmalte através de raspagem. Uma dica: evite sorrir durante o processo, seja para amigos, velhinhas simpáticas ou bebês de colo. Mais vale a fama de antipática do que o ridículo de ser vista com um cascão vermelho nos dentes.
Segundo passo: Retirando as cutículas
Após a completa remoção do esmalte, deve-se utilizar o mesmo processo descrito acima para realizar o corte das sobras de cutícula. Note que a essa altura você já pode contar com um surto de impaciência e ansiedade para dar cabo do serviço mais depressa, uma vez que:
a) O ônibus não vem;
b) O ônibus não vem e você tem fome;
c) O ônibus não vem, você tem fome e as crianças que saíram da escola as CINCO da tarde ainda perambulam pelo terminal, tropeçando nas suas pernas a cada lance no futebol de bolinha de papel.
Deve-se evitar, contudo, que a impaciência se transforme num rompante incontrolável de ódio contra o sistema de transporte público, pois isso poderia acarretar a amputação de algum dedo num momento de distração. Incisivos centrais podem ser cruéis quando fora de controle.
O coletivo finalmente dá o ar da graça enquanto você nota, desolada, que vai lotar antes mesmo que se possa chegar à porta de embarque. O que a consola é que as unhas estão finalmente prontas para receberem o esmalte. Você jura que vai chegar em casa e usar aquele clarinho, bonitinho e limpo, que facilita consideravelmente o trabalho.
Terceiro passo: Pintando as unhas
Finalmente em casa, a primeira providência a ser tomada é procurar pelos vidrinhos de Gabriela, Pitanga ou Rebu (alguém falou em esmalte clarinho?), que são um arraso, mas invariavelmente fazem cagadas homéricas, diretamente proporcionais à falta de coordenação motora da usuária.
Uma vez encontrado o esmalte de cor ideal – que contra todas as suas expectativas estava justamente na gaveta de esmaltes, inconvenientemente o último lugar onde você procurou – procede-se à pintura. Como tratamos aqui de um melhor aproveitamento do tempo, antes de começar a lambança em si coloque a panela de arroz no fogão, a lasanha congelada no microondas, ligue a TV no noticiário, abra o jornal que não deu tempo de ler pela manhã e deposite um animal de estimação felpudo e fofinho sobre seus pés gelados.
Quando tiver tudo sob controle
N.A: Aqui caberiam dicas sobre como remover manchas de esmalte de tapetes, estofados, cortinas, pelos de gato e mesinhas de telefone, mas para não fugir do tema principal, deixarei este assunto para outra ocasião.
Duas horas depois você começa a pintar a mão direita e é aí que mora o perigo. Pessoas habilidosas enfrentam certa dificuldade ao fazê-lo. Pessoas desastradas, como é o caso, estão completamente abandonadas à própria sorte. Tente se concentrar na primeira falange (é desumano exigir que se pinte apenas as unhas nesse caso), do contrário a limpeza do excesso de esmalte pode se tornar uma tarefa ingrata e demorada. Passe uma demão de óleo secante e realize a remoção dos excessos supracitados com um pau de laranjeira e algodão embebido em removedor. Verifique se o gato respira sem dificuldade, desligue o microondas na tomada, confira se tem miojo no armário e conte os dedos das mãos. Caso contabilize um total de dez, meus parabéns, você conseguiu, em menos de quatro horas, fazer as unhas não de uma, mas de DUAS mãos, sem sofrer maiores conseqüências.
Exausta e orgulhosa de sua obra, você despenca na cama para uma merecida noite de sono, percebendo na manhã seguinte - com indisfarçável horror - que o cobertor imprimiu um padrão de linhas finas e cruzadas, imitando papel linho, na sua pintura lisa, brilhante e perfeita. Respire fundo e tente não entrar em pânico: você sempre pode voltar ao primeiro passo.