quarta-feira, julho 22, 2009

Rituais de beleza da mulher contemporânea: Fazendo as unhas.

Este post é dedicado a você, mulher moderna, profissional respeitável e gostosinha de fim de semana, que corre de um lado para outro feito um suricate cego, com a honesta intenção de dar conta de todas as tarefas do dia a dia - mas que não descuida da aparência nunca. Hoje ensinarei técnicas de otimização do tempo para que você consiga fazer as unhas de maneira eficaz e organizada, evitando ao máximo desastres de percurso que podem envolver mutilações de médio porte.

Primeiro passo: Removendo o esmalte

Caso você esteja ainda com o esmalte da semana passada, aquele vermelhão Vila Mimosa parcialmente descascado (o que te dá de brinde um letreiro piscando em letras garrafais a palavra DESLEIXO sobre a sua cabeça), comecemos por removê-lo. Com os dentes. O momento ideal para fazê-lo é no ponto de ônibus, após o trabalho, naquela fila interminável que cheira a frango de padaria, desodorante vencido e pão fresco. É importante utilizar apenas os incisivos centrais superiores e inferiores, que são especialmente indicados para a remoção de esmalte através de raspagem. Uma dica: evite sorrir durante o processo, seja para amigos, velhinhas simpáticas ou bebês de colo. Mais vale a fama de antipática do que o ridículo de ser vista com um cascão vermelho nos dentes.

Segundo passo: Retirando as cutículas

Após a completa remoção do esmalte, deve-se utilizar o mesmo processo descrito acima para realizar o corte das sobras de cutícula. Note que a essa altura você já pode contar com um surto de impaciência e ansiedade para dar cabo do serviço mais depressa, uma vez que:

a) O ônibus não vem;
b) O ônibus não vem e você tem fome;
c) O ônibus não vem, você tem fome e as crianças que saíram da escola as CINCO da tarde ainda perambulam pelo terminal, tropeçando nas suas pernas a cada lance no futebol de bolinha de papel.

Deve-se evitar, contudo, que a impaciência se transforme num rompante incontrolável de ódio contra o sistema de transporte público, pois isso poderia acarretar a amputação de algum dedo num momento de distração. Incisivos centrais podem ser cruéis quando fora de controle.

O coletivo finalmente dá o ar da graça enquanto você nota, desolada, que vai lotar antes mesmo que se possa chegar à porta de embarque. O que a consola é que as unhas estão finalmente prontas para receberem o esmalte. Você jura que vai chegar em casa e usar aquele clarinho, bonitinho e limpo, que facilita consideravelmente o trabalho.

Terceiro passo: Pintando as unhas

Finalmente em casa, a primeira providência a ser tomada é procurar pelos vidrinhos de Gabriela, Pitanga ou Rebu (alguém falou em esmalte clarinho?), que são um arraso, mas invariavelmente fazem cagadas homéricas, diretamente proporcionais à falta de coordenação motora da usuária.

Uma vez encontrado o esmalte de cor ideal – que contra todas as suas expectativas estava justamente na gaveta de esmaltes, inconvenientemente o último lugar onde você procurou – procede-se à pintura. Como tratamos aqui de um melhor aproveitamento do tempo, antes de começar a lambança em si coloque a panela de arroz no fogão, a lasanha congelada no microondas, ligue a TV no noticiário, abra o jornal que não deu tempo de ler pela manhã e deposite um animal de estimação felpudo e fofinho sobre seus pés gelados.

Quando tiver tudo sob controle o que geralmente não acontece, não se iluda, você pode finalmente começar a pintar. Primeiro a mão esquerda, que é relativamente fácil, de modo que você consegue pintar as unhas apenas, evitando toda a área próxima. Após um breve momento de glória você percebe que a água do arroz secou e aqueles estalos altos e ameaçadores não são provenientes de fogos de artifício na rua, uma vez que o jogo do Flamengo nem começou. É apenas o seu jantar indo pelo ralo, o que no fim das contas já não importa tanto, pois você olha para a sala e percebe que o animal fofinho e felpudo derramou meio vidro de esmalte e se diverte deixando pegadas de cor escarlate por todo o tapete, fazendo com que você perca instantaneamente a fome, além do bom senso. Aproveite que está na cozinha e já passe a mão no rolo de papel absorvente, pois vai precisar.

N.A: Aqui caberiam dicas sobre como remover manchas de esmalte de tapetes, estofados, cortinas, pelos de gato e mesinhas de telefone, mas para não fugir do tema principal, deixarei este assunto para outra ocasião.

Duas horas depois você começa a pintar a mão direita e é aí que mora o perigo. Pessoas habilidosas enfrentam certa dificuldade ao fazê-lo. Pessoas desastradas, como é o caso, estão completamente abandonadas à própria sorte. Tente se concentrar na primeira falange (é desumano exigir que se pinte apenas as unhas nesse caso), do contrário a limpeza do excesso de esmalte pode se tornar uma tarefa ingrata e demorada. Passe uma demão de óleo secante e realize a remoção dos excessos supracitados com um pau de laranjeira e algodão embebido em removedor. Verifique se o gato respira sem dificuldade, desligue o microondas na tomada, confira se tem miojo no armário e conte os dedos das mãos. Caso contabilize um total de dez, meus parabéns, você conseguiu, em menos de quatro horas, fazer as unhas não de uma, mas de DUAS mãos, sem sofrer maiores conseqüências.

Exausta e orgulhosa de sua obra, você despenca na cama para uma merecida noite de sono, percebendo na manhã seguinte - com indisfarçável horror - que o cobertor imprimiu um padrão de linhas finas e cruzadas, imitando papel linho, na sua pintura lisa, brilhante e perfeita. Respire fundo e tente não entrar em pânico: você sempre pode voltar ao primeiro passo.

segunda-feira, julho 13, 2009

Erase, rewind.


Bom, já que você fez desse jeito, farei o mesmo. Cheguei muito atrasada e a última coisa que deveria estar fazendo é escrever aqui. Não que eu me sinta na obrigação de explicar algo pra alguém, mas se esse alguém é você eu acredito que no mínimo valha a pena tentar. Primeiramente, você tinha razão: era uma forma de desabafo, quase sempre o é. Um jeito de dizer pra mim mesma, e eventualmente pra quem se der ao trabalho de ler, que eu sou daquele jeito, que pode não ser o melhor jeito, que pode não ser o jeito certo, que pode ser o jeito que dá mais trabalho, mas é o que eu sou. Muitas vezes não é fácil para as pessoas me aceitarem assim e outras tantas eu mesma esbarre nessa dificuldade, me obrigando a entender que sou aquilo ali, doa a quem doer, mesmo que doa em mim.

Um desabafo movido por sentimentos e lembranças que datam de muito antes de sequer sonhar em conhecer você. Apesar de ser uma pessoa cheia de vida e alegria, e que por isso mesmo - ao contrário do que você diz - chama muita atenção sim, você não é nem de longe o tipo de pessoa que me levou a escrever aquele texto. Pra minha sorte, pois do contrário eu não a teria como amiga. Não quis em nenhum momento cutucá-la, tentar arranhar a sua dignidade - posto que conheço a matéria da qual ela é feita - e menos ainda tirar de você por um minuto que fosse sua paz ou sua alegria, pois pra esse crime não haveria castigo justo o bastante.

Já tivemos nossos problemas sim. Problemas até infantis demais pra quem se diz mulherão, e acho que concordamos nisso. Ninguém estava certo ou errado e em dados momentos as palavras podem servir como armas. Pior, armas que a gente sabe usar. Mas você, desprovida de orgulho besta, botou meu muro abaixo e é uma das poucas pessoas capazes de fazê-lo. E te admiro por isso. Pelas nossas diferenças, não pelos pontos em comum. Não preciso de outra de mim, mas um pouco de você se faz necessário pra haver equilíbrio.

Quanto aos exemplos citados, eles vêm de muito tempo, coisa de escola, e sim, foi uma infeliz coincidência que eu só fui perceber quando já era tarde. Poderiam ser Marcelos, Robsons ou Antonios, mas os Brunos e Rodrigos eram em maior número, dezenas deles pelo ensino fundamental afora e foi deles que me lembrei. Eu posso trocar, sem problema nenhum, se isso te incomoda, pois a idéia permanecerá a mesma. Só quero deixar claro que nada teve a ver com o que você está achando e te peço pra lembrar sempre que “achar” é algo muito arriscado. Tive um professor que dizia que tudo que vinha depois de “Eu acho...” deveria ser descartado. Ou você sabe ou você não sabe. Ou você acredita ou você não acredita.

Eu entendo que os últimos acontecimentos possam ter te levado a “achar” que aquelas palavras fossem encaminhadas a você, mas eram de mim para mim. E não foram inspiradas em qualquer momento que eu tenha passado ao seu lado e sim por 5 minutos num saguão de hotel na companhia da minha irmã. E nem por isso eu a amo menos, por ela ser quem ela é. Não tive a intenção de menosprezar ninguém para justificar quem eu sou, por mais que minha aspereza possa ter feito parecer que sim. E já que esse texto tem uma tendência forte a resvalar pelo brega, termino com Caetano, que deve saber o que diz (ou não): "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

domingo, julho 12, 2009

Confissões de uma jaguatirica escorpiana

Cá estou num domingo tipicamente petropolitano – frio e deprimente – mais uma vez tentando me entender e, para manter a tradição, falhando miseravelmente. Na falta de chocolate, cerco-me de paçoquinhas para adoçar as conclusões e de gatos – os felinos mesmo - para esquentar os pés. Alguém pergunta no MSN se estou melhor. Eu me pergunto se estive mal recentemente. E lembro, logo em seguida, de ter assustado essa mesma pessoa diante da minha incapacidade de digitar após umas cervejas e um beijo caliente do Jose. O Cuervo. Concluo que sim, estou melhor, ao menos do ponto de vista clínico. Logicamente preferia estar bêbada, já que não há muito mais o que se fazer com um domingo desses. E sem ter pra onde correr, começo a lembrar, a pensar e a remoer algumas atitudes minhas (ou a falta delas).

Não sei se meu problema de verdade é alguma espécie de autossuficiência adquirida, se é o clássico medo de me expor e causar uma impressão errada – o que é estúpido - ou se é uma timidez crônica, outra coisa estúpida que atrapalha nossa vida em todas as esferas possíveis e imagináveis. A questão é que eu tenho a tendência a manter as coisas no raso. Não aconselho ninguém a fazer o mesmo e tampouco sustento que essa seja uma atitude saudável. Pode funcionar como uma espécie de proteção sim, mas fazendo uma analogia bem besta, se você constrói um muro alto em volta de si não vai afastar apenas as pessoas indesejáveis. A não ser que seu muro seja dotado de inteligência artificial e possa fazer uma triagem satisfatória, baseado em informações previamente inseridas.

Nunca fui aquele tipo de menina que passava as tardes na casa das amigas, trocando figurinhas e se embrenhando no closet alheio. Fui a última da turma a dar umas bitoquinhas e provavelmente a última também a dar, se é que vocês me entendem. Não era uma grande fã de abraços, beijos melados e cafunés e talvez por isso mesmo sempre tenha preferido a companhia dos meninos. Soltando pipa ou jogando bolinha de gude eu estava a salvo de nhenhenhéns, podia correr, xingar, sentir o vento no cabelo e não precisava me vestir igual a cinco ou seis garotas e passar a tarde comentando como o Bruno ou o Rodrigo estavam gatinhos, entre risinhos e trocas de batom. Nenhuma dessas escolhas me fez menos mulher. Talvez um pouco complicada sim, do tipo que mantém a defensiva e arranca a cabeça do macho após a cópula, mas não intragável. Eu acho. Preciso de uma segunda opinião.

O fato de não mendigar atenção e carinho, de ficar na minha, de não ser uma festa ambulante ou de não ostentar aquela aura de pessoa irritantemente feliz a todo custo me confere um ar de antipatia, algo que me chama a atenção justamente quando estou na presença de alguém que é exatamente o contrário de tudo isso - minha irmã, por exemplo. O tipo de pessoa que em 5 minutos vira sua melhor amiga de infância. Que conhece por nome e sobrenome cada atendente de padaria, motorista de táxi ou caixa de banco.

Já que nunca sofri maus tratos ou abuso por parte de meus familiares (pelos menos não que me lembre, dizem que a memória bloqueia certas lem... tá, parei) e diante da dificuldade de explicar ou justificar essa minha fama de má, apelo para a providencial ajuda da astrologia, que mesmo não sendo uma ciência exata, de vez em quando acerta nos seus pitacos:

Não lhe faltam resistência nem energia e dá tudo de si em situações difíceis. Sente-se diferente dos outros, tem dificuldade em se integrar (eu não disse?), ainda mais porque raramente está livre de tensão.

Lúcido (quando sóbrio), espírito penetrante, crítico e perspicaz. Determinado, concentrado (Yeah, right), confiante. Não se deixa influenciar, manda na sua vida, portanto é responsável pelo que lhe acontece.

(Atenção para esta parte) Não gosta de ser contrariado, nem que indaguem dos seus motivos. Força situações (quer dizer que sou manipuladora), perspicaz, sutil, ardente, leal. Ajuda-se, se quiser, e aos outros. Vingativo, antagônico, sarcástico, violento (muita calma nessa hora). Possui autorrespeito, não se preocupa com o que os outros pensam, pois tem boa opinião de si. Bom julgamento. Também quer segurança emocional. Tudo ou nada. Ar impenetrável, face de jogador de pôquer (poker face my ass). Não esquece quem lhe ajuda, nem quem lhe prejudica (anotou?).

Como podem notar, sou inocente.

É tudo culpa dos astros.

Encerro minha defesa.

sexta-feira, julho 10, 2009

Eu tenho um problema...

Aliás, tenho vários. Inclusive acredito fortemente que o título desse post deveria ganhar um selo de “retornável”, pois é certo que o usarei outras vezes: “Eu tenho um problema – parte XVIII”. Mas falemos primeiramente da dificuldade principal, aquela que dá origem a quase todos os outros imbróglios: eu tenho TOC. Falo sério. Tive uma melhora discreta nos últimos meses, mas ele nunca deixa de dar as caras e mostrar quem é que manda. Se você já esteve por aqui, provavelmente sabe algo a respeito.

Procuro manter sempre meu armário bem arrumado, as roupas separadas por cor e freqüência de uso, as gavetas fechadas em ângulo reto e perfeito, sem nenhuma fresta pornográfica me olhando de rabo de olho. Tudo o que puder ser limpo, arrumado, organizado e catalogado, será. Basta para isso que eu tenha algum tempo livre e força para encarar a luta. E quando não os tenho só me resta, resignada, fritar bolinho a noite inteira por conta daquele pé de meia que desapareceu misteriosamente e do qual é quase certo que não se terá notícias nunca mais.

Cedo ou tarde o trabalho termina, afinal, as coisas não se bagunçam sozinhas. Na ânsia de encontrar algo para arrumar, etiquetar, arquivar ou catalogar, decidi organizar minhas idéias, meus pensamentos e os muitos problemas com status de "pendentes". Mal sabia eu. O cenário era de horror absoluto, nenhum campo de batalha abandonado há duas semanas cheiraria tão mal, nenhum contêiner de lixo inglês seria mais caótico e sem propósito, nenhuma morte de ídolo pop seria tão cercada de controvérsias e contradições. Mas tentei, bravamente. Na minha saga contei com toda ajuda que pude conseguir, começando pela idéia vagamente inspirada - respeitando-se minhas livres interferências - no filme Eternal Sunshine of the Spotless Mind: separar tudo, imaginando salas com portas identificadas, corredores, estantes, arquivos, pastas suspensas.

Acho que pela primeira vez não falhei tão miseravelmente numa tarefa auto-imposta, pois agora minhas idéias - e principalmente meus problemas, visto que são em maior número - ficam confortavelmente alojados no hemisfério esquerdo do meu cérebro, catalogados, a grosso modo, por assunto. Às vezes a logística falha, como quando as gavetas "Relacionamento" e "Financeiro" dão de ficarem abarrotadas, espalhando encrenca por todos os lados. Nessas ocasiões até busco umas dicas de arquivamento em apostilas de estudo para concursos públicos que, devo confessar, nunca utilizo. Acabo habitualmente separando por cor, tamanho, relevância, sexo e assunto. Por exemplo: “Se aquela vaca não me pagar o que deve, a coisa vai ficar preta.”, podemos notar facilmente que se trata de um problema financeiro de média relevância, do sexo feminino, habitante da pasta dos pretinhos básicos, quarta gaveta de cima pra baixo.

A desvantagem do excesso de organização é que ele me impede de misturar as coisas (isso não se aplica a destilados, fermentados e drinks coloridos de toda sorte), de forma que consigo separar coisas básicas como amor, amizade, sexo, dinheiro e família. Funciona da seguinte forma: meus familiares não me ajudam com porra nenhuma, mas eles são meus amigos assim mesmo. Meu trabalho não é sempre meu amigo, às vezes ele me fode e quase nunca supre satisfatoriamente minhas necessidades materiais. Quando gosto de alguém, não deixo que pague a conta. Não sem antes protestar, brigar, xingar, babar e ter um ataque epilético no caixa do restaurante. Se um cara serve pra ser um ótimo amigo, do tipo que dá dicas de corte de cabelo e assiste desfiles da Calvin Klein, dificilmente pensarei em dar pra ele sair com ele, mas pode ser que eu peça dinheiro emprestado. Ou não. Certamente não. Sem sombra de dúvida que não. Tudo bem, confesso que fiquei confusa. Melhor voltar do começo. Eu tenho um problema...

quinta-feira, julho 09, 2009

Diálogos cotidianos: Parte II


_ Coloca essa foto como avatar...

_ Por quê?

_ Tá tão bonita...

_ Tudo bem, eu coloco.

_ Pensando bem...

_ O quê?

_ Se você colocar e alguém compartilhar da minha opinião, alguém do sexo feminino, alguém solteiro, alguém bonito, encantador, inteligente, fascinante, loira e peituda, que por ventura venha a despertar a sua curiosidade e/ ou interesse e a partir de um “inocente” comentário acerca de uma foto nascer um diálogo despretensioso que pode evoluir pra um relacionamento - ainda que virtual - e eu sei, você sabe, relacionamentos virtuais podem ultrapassar as fronteiras da internet e eu vou terminar descabelada e louca, te seguindo pela rua depois do trabalho pra ver que caminho você anda fazendo, cheirando suas roupas, proibindo o futebol de domingo, regulando seus horários e proferindo impropérios via web pra alguma desocupada destruidora de lares que eu nem sequer conheço e prefiro não chegar a conhecer. Então...

_ Já deletei, amor.