segunda-feira, março 16, 2009

Tenha um Puta Medo

A cabeça da gente é uma caixinha de surpresas né? Geralmente surpresas desagradáveis... Você está numa boa e de repente uma vírgula fora de lugar acaba com seu bom humor e te transforma numa megera indomada. O pior é trabalhar com suposições. E acredite: mulheres só trabalham com suposições. Tente explicar alguma coisa exata e cientificamente comprovada que a gente não só dá um jeito de romantizar tudo como ainda arranja encrenca com você por ter entendido errado.

A mente feminina tem a incrível capacidade de fazer tempestades em copo d’água. Esquece a água, dá um copo vazio que nos viramos muito bem. Inclusive, peço a atenção dos governadores dos estados do nordeste brasileiro: estão desperdiçando nosso potencial na luta contra a seca no sertão. Cinco mulheres na TPM, reunidas no mesmo ambiente, podem criar tempestades que abasteceriam os mananciais de trinta e cinco cidades de pequeno porte durante seis meses, segundo dados recentes divulgados pelo Instituto de Pesquisas Paranormais e Hidrográficas do Acre.

Não há no mundo amizade mais leal e sincera que essa que existe entre nós e a tensão pré-menstrual. Ela funciona quase como uma amiga de carne e osso: diz que você está gorda, que seu cabelo está feio, que aquele vestido não te favoreceu e que o carinha de quem você gosta está saindo com outra melhor, mais bonita e modelo 2010. E ela te diz tudo isso numa segunda-feira de manhã, sem fazer uso de lubrificante emocional e sem nenhuma menção de pedir desculpas. Mas ela também oferece vantagens que nem o gerente gato da sua conta bancária tem. Ela incha teus peitos e recheia o teu decote (não que isso seja indolor, mas é extremamente válido), ela mantém as pessoas indesejáveis (nesse caso TODAS) à distância, pois você fica tomada por um estado de desgraça tão aparente que ninguém em sã consciência se atreverá a te desafiar nesses dias. Ela justifica todos os xingamentos gratuitos, as discussões com o motorista do ônibus, as quatro barras de chocolate e o pacote de Nescau Ball na gaveta da sua escrivaninha. Ela te dá licença pra matar ou, pelo menos, para ameaçar de uma morte lenta e dolorosa o infeliz do seu parceiro que teve a discrepância de te perguntar, curioso diante do seu silêncio sepulcral e de sua expressão Pedro de Lara cover: Tá tudo bem?

Deixem-me fazer uma observação baseada na minha experiência pessoal que pode ser de extrema valia para vocês, homens. ‘Tá tudo bem?’ é a pior pergunta que você pode dirigir a uma mulher irada. Ao invés de questionar a inofensiva mudez acompanhada da cara de bunda, deixe a infeliz em paz no canto dela, pois o próximo estágio da crise inclui grunhidos histéricos e o arremesso de itens decorativos de peso médio em sua direção. Quer ser gentil? Apareça barbeado, perfumado, com flores e chocolates. Imprima algum poema pouco conhecido e reescreva, finja que é seu. Se ela não acha que você é um paspalho analfabeto, pode colar. Mas importante: mantenha o mutismo. De nada adianta você fazer tudo isso e emendar um ‘Tá tudo bem?’ logo em seguida. Você vai terminar arranhado, amassado e com gérberas vermelhas saindo pelo nariz. Depois não diga que não avisei.

Outra coisa que notei no meu último relacionamento, além da tendência a fazer perguntas cretinas no período mais propício a demonstrações de violência explícita e gratuita, foi a TPM masculina. Sim, ela existe. Os homens têm um senso tão grande de solidariedade para conosco que também ficam insuportáveis nesse período. É uma pena que esse senso de solidariedade seja inversamente proporcional ao amor que eles nutrem pela sua própria integridade física. Afinal, é sabido que não se deve provocar alguém que não consegue entrar num jeans tamanho 38 e que sofre de cólicas que a obrigam a passar o dia deitada em posição fetal, chorando por causa do reclame daquele seguro de saúde que mostra uma família feliz e bem sucedida fazendo piquenique no parque.

'E quando vocês não estão na TPM?', você se pergunta, já que não viramos monstros cascudos de seis braços e três metros de altura apenas uma vez por mês. Para esses momentos de mimimi inexplicável, que aparecem out of the blue e descontrolam sua vida, fodem os seus planos e fazem cair os seus cabelos, adotei o termo TPMicareta, por razões óbvias. TPM, pois os sintomas são os mesmos, salvo a ausência de cólica e de peitos naturalmente turbinados. E micareta, pois assim como a festa cujo único objetivo é ajudar os foliões a molharem o biscoito depois de fevereiro, a TPMicareta também é fora de época.

Às mulheres, só posso dizer que não há muito o que se fazer quando essa amostra grátis de inferno se apresenta. A não ser que você faça uso de calmantes, ansiolíticos, antidepressivos e remédios para dormir. Também recomendo que você ouça Nando Reis o dia todo, ele é o maior expoente da TPMpb e vai fazê-la se sentir melhor (embora seja mais efetivo quando acompanhado de duas caixas de BIS). Entregue seu cartão de crédito para alguém de confiança e peça para que só devolvam quando você for pedir sem a baba escorrendo no canto esquerdo da boca. Ausente-se de todas as redes sociais e mensageiros instantâneos que você normalmente utiliza e chafurde com força no sofrimento causado pela TPMicareta, pois ela é real, é devastadora e ainda vai te pegar.

9 comentários:

  1. Lembro até hoje da minha primeira experiência real com TPM.
    Fui buscar a ex na casa dela, porque ela queria ir na minha casa ver um filme que tinha lá e eu não lembro qual é.

    Cheguei na casa dela e ela quis tomar um milk-shake.
    Ótimo.
    Pegamos o milk shake e fomos pra minha casa.
    Na metade do caminho, ela não quis mais milk shake e me deu o copo dela, praticamente cheio.
    Otimo também.
    Chegando lá, ela não queria entrar porque meus pais iam achar que ela estava feia.
    Não entramos.
    Ficamos na beira da represa, à noite, que é uma dessas segundas coisas mais lindas do mundo.
    Aí, apareceu um veado - o animal, animal! - e ficou andando pela beirinha da água.
    Ela se comoveu com aquilo como se fosse a figura de virgem maria fazendo abdominal e eu não entendia nada: "foi porque a mãe do bambi morreu?".
    Aí, ela resolveu que queria ir embora.
    No meio do caminho de volta, ela começou a me bater e dizer que não queria ir embora, que queria ver o filme, que queria comer, que queria ir ver o gelo lembrar disso, anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, que queria comer neve amarela, que queria mais chocolate, que queria que o mundo fosse mundo e as pessoas fossem gente, que a mãe do bambi não tivesse morrido, que o central do brasil tivesse ganho o Oscar, que a gwyneth paltrow tinha que se foder e ia nessa linha forevah-anddevah - se eu não tivesse parado o carro, no meio da rua, bem no corredor de ônibus, e dito com toda aquela eloquência furiosa de um al pacino em "dia de cão" que me faz falar em caixa alta:
    "POR QUE DIABO DE CARALHOS VOCÊ NÃO CONTINUA QUERENDO A MESMA COISA ATÉ, PELO MENOS A GENTE CONSEGUIR FAZER O QUE VOCÊ QUER? ISSO DE QUERO ISSO, QUERO AQUILO TÁ ME BOTANDO LOUCO! ESCOLHE, VAI. UMA COISA. UMA SÓ. AÍ, A GENTE SAI DAQUI!"

    E vinha vindo ônibus atrás da gente.
    E em velocidade de combate.

    Foi quando eu olhei e a boca dela estava fechada, mas tremia de um jeito que as lágrimas caíam em tudo, no decote, nas pernas, no queixo, em mim, em TUDO.

    Aí, ela agarrou no meu braço como se tivesse acabado de acordar - mas não acordado tanto assim - de um pesadelo. "Eu tô ne TPM, poxa. Tem paciência, meu".

    Achei lindo aquilo e me senti o ogro mais ogro de toda a floresta.

    Botei primeira e saí dali antes que o Terminal Bandeira nos arrastasse até a ponte do Socorro, onde, é claro, não haveria socorro nenhum pra gente.

    Ela ia agarrada no meu braço como bóia de criança. A gente parou numa loja de conveniência e comprou uma caixa de bis, um copo de requeijão de cheddar e um pacotinho de stiksy.

    Chegando na casa dela, os pais dela já estavam dormindo e a gente ficou na sala. Espetei o tanto que coube dos Stiksy no copo de requeijão e deixei a caixa de Bis aberta.

    Ela, ainda agarrada no meu braço, ia zapeando TODOS os canais sem parar em nenhum e ignorou solenemente os stiksy com cheddar e monopolizou a caixa de bis.

    Ainda com ela agarrada no meu braço, pensei: "então TPM é isso? Que bonitinho... Acho que eu posso conviver com isso".

    aham.

    little did he knows.

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  2. "Tá tudo bem?" é (era) minha pergunta de praxe. Obrigado. Antes disso, eu realmente acreditava que a pergunta, além de demonstrar carinho e preocupação, ajudava a quebrar o gelo.

    Melhor manter o gelo, né?... (agora eu sei o porquê das 'patadas' gratuitas)

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  3. A mente feminina me encanta. Sério...
    Mas olha, se eu fosse essa tal de TPM eu ficaria rico! Processaria todas as mulheres por falar que tudo a culpa é dela!rs Enfim, continuemos a tentar nos entender, o que cá entre nós, é gostoso demais. (principalmente quando uma mulher se analisa...)

    Beijos

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  4. Ah é mais complicado que isso. Na maioria das vezes as mulheres ficam esperando você perguntar se está tudo bem, com uma cara de esquilo sem noz. Se você pergunta, fodeo. Se não pergunta, fodeo. O mais aconselhado é o gelo mesmo, até porque na pior das hipóteses vocÊ já tem com o que amenizar a dor e o inchaço...

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  5. TPM = Tocou? Pegou? MORREU!

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  6. PM? Nao sei o que é isso! Nem minha namorada, graças a deus hahah

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  7. Eu já reclamo os 28 dias do ciclo, a TPM só em serve pra justificar, e a dor das cólicas servem pra me penitenciar por ter usado meus hormônios como desculpa pra cometer atrocidades.

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  8. Admito que adoro o lado cênico da TPM, essa mistura de Charles Mason, onça pintada e Bukowski.

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  9. Pior que dá uma vontade de perguntar pra minha esposa: Tá tudo bem? :) Ela já aprendeu e quando está chegando nesses dias fala. Olha, eu tô enjoada mesmo, nem se preocupa.

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