domingo, fevereiro 08, 2009

On letting go...

Tem uma música do Aerosmith que lá no fundo parece que dá para ouvir um telefone tocando. Talvez não tenha nenhum ruído que faça menção a uma campainha de telefone, mas eu escuto. Vai ver que é por que eu condicionei meus ouvidos a isso. Quem me conhece um pouco que seja, sabe que eu odeio telefone. Do meu lado da linha, eu não presto atenção em nada do que está sendo dito, coisa que para mim já é difícil de fazer olhando nos olhos da pessoa. Do outro lado, a impressão que tenho é que estou jogando minha voz no espaço e que ela não vai ricochetear em lugar nenhum. Acho que tenho medo que a pessoa do outro lado da linha seja tão autista quanto eu.

Nas últimas semanas, toda vez que essa música toca, eu tenho um sobressalto. Acho que também condicionei meu coração a ter sobressaltos. Eu acabo procurando feito uma cega louca o celular e o telefone fixo pela casa para me certificar de que não estão tocando, mesmo que as campainhas sejam absolutamente diferentes do ruído que eu escuto na música. E que pode nem estar lá.

Nos raros momentos em que não estou ouvindo música nenhuma, o telefone toca de verdade. Esteja ele embaixo do meu travesseiro ou largado em cima da mesa de bilhar, eu tenho o mesmo sobressalto. Dessa vez é porque eu sei o que vem pela frente. Nessas horas eu queria nem ter identificador de chamadas, seria uma forma de não sofrer por antecipação. Mas é sempre a história que eu não quero ouvir, o convite que eu não posso aceitar ou a acusação que não cabe a mim. Eu procuro ser sincera sempre, mas tomando muito cuidado porque a sinceridade nem sempre é vista com bons olhos. Ou ouvida com bons ouvidos. Infelizmente, percebo que tenho falhado nessa minha sinceridade sutil, pois eu continuo dizendo uma coisa e as pessoas insistindo em entender outra. Após desistir de tentar me fazer entender, acabo por ouvir a história, declinar do convite, uma, duas, três vezes e engolir em seco a acusação que não é minha.

Eu não gosto de expor tudo que vai na minha cabeça o tempo todo, acho que ‘para sempre’ é tempo demais e escrever a caneta é não se dar a oportunidade de apagar e escrever de novo, quantas vezes forem necessárias, até o seu rascunho ter cara de texto final. Mesmo que você revise, ache que não é nada daquilo (geralmente não é) e apague tudo de novo. Por isso eu prefiro escrever a lápis. Enquanto o papel aguentar, eu apago e tento outra vez.

Mas se o telefone insistir em tocar, se as histórias se alongarem e os convites não cessarem, ao menos por um curto período, uma trégua que seja, eu vou escrever em letras garrafais, com uma dessas canetas para retroprojetor que não apagam nem com álcool, acetona e despacho em encruzilhada:

ME DEIXA.

Mas não me esqueça. Só me mantenha aí em animação suspensa.

6 comentários:

  1. Agora eu vou ali jogar na Mega Sena, porque eu avisei, vai chegar a hora do "ME DEIXA EM PAZ", e não vai ser legal. Mas necessário.

    :*

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  2. Por isso que sou adepto das tatuagens. Recados pra você mesmo que nunca se apagam e vão contigo até pra debaixo da terra.

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  3. Eu tambem escuto o telefone tocar em uma musica, que no momento me fugiu a cabeça... acho que é alguma do depeche, nao sei!
    bom, da proxima vez q te ligar vou pensar duas vezes. haha
    se quiser saber se eu estou prestando atençao ou nao, é o numero de vezes seguidas que eu falo "ãrrãm".

    aiai. =*

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  4. tinha uma música dos paralamas que tinha uma coisa assim tb. tinha um barulhinho lá no meio que me fazia buscar o celular, inclusive quando eu tava dirigindo - o que rendia tantos movimentos contorcionistas em mim quanto nos pedestres que fugiam apavorados quando eu subia na calçada. hoje em dia, nessa minha vida de pedreste, o que mais acontece é mais ridículo: quando ele toca, eu não vejo e, quando ele não toca, eu acho que toca - sempre no bolso onde ele não está.

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  5. sabe que isso é o mais normal né, sempre tem alguém que vai tentar, insistir e faz a gente dizer nãos que não queria dizer

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  6. E eu? Que escuto telefone tocando do nada...e NUNCA tá tocando. Mas pô, te entendo muito bem. Eu também tenho esse defeito social de ser sincero. Quase ninguém quer ouvir a verdade sobre a situação ou sobre si mesmo. Mas não consigo aprender a ser cinico...aprendi a me abster de comentar em certas situações. Uma hora a verdade vai bater na cara das pessoas. E vai doer.

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Desembucha...