quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Sincronicidade

Sabe esse papo de sincronicidade? Então, eu não acredito nele. Assim como não acredito em horóscopo, vodu, papai Noel e heteros que ouvem Mika. Mas ultimamente, não sei por que cargas d’água, uma assombração dessas deu para passar os dias tentando me convencer de que existe. Não me surpreenderei quando o papai Noel bater à minha porta às três da manhã, com uma garrafa de vinho argentino na mão, cantarolando Grace Kelly. O que me faz lembrar que durante toda minha infância ninguém jamais ousou tocar no assunto da sexualidade do papai Noel, o que no fim das contas torna perfeitamente cabível a cena acima descrita.

Mas, voltando ao enredo do meu samba de uma nota só, essa tal de sincronicidade deu pra ficar na minha cola nos últimos dias. Ou isso ou eu ando pancada demais, buscando correlações e vendo padrões em tudo. Coincidências significativas ou não, coisas estranhas têm me acontecido. Um beija-flor, provavelmente perdido numa rua cheia de postes, fios e poluição visual, achou que era boa idéia entrar por uma das centenas de janelas do prédio onde trabalho e ficou dando rasantes pelas salas até encontrar um lugar para descansar. Este porto seguro veio a ser minha cabeça. Em 25 anos de existência eu não tinha chegado a menos de um metro de um beija-flor e um deles, talvez o mais suicida, resolve se embolar no meu cabelo. Ele estava cansado e o coração a 500 BPM dele parecia que ia sair pelo bico, o que fez com que eu tentasse pegá-lo para levar até a janela. Mas é impossível. Ele deve ser feito de matéria impalpável, escorregava entre meus dedos feito água e fugia. Mas era só eu me sentar de novo que ele tomava coragem e voltava pra minha cabeça. Por fim ele decidiu que nosso tête à tête estava terminado e saiu pela janela sem sequer prometer um telefonema no dia seguinte.

Dias depois me rendi à curiosidade e fui ao cinema assistir The Curious Case of Benjamin Button. Não chorei. Pra ser sincera, nem me envolvi muito com a trama, que só valeu o ingresso pelo Brad Pitt de óculos escuros em cima de uma moto. Quem já assistiu sabe que um beija-flor, atrevido feito o meu, tem uma participação no filme. Daquelas que eles colocam para você interpretar como quiser, você o faz e não conta pra ninguém por medo de ter entendido tudo errado.

Achava eu que minha história com essas avezinhas intrigantes estava terminada. Até que esta tarde, não me pergunte o porquê, levantei-me de minha cadeira e fui até a janela, coisa que eu nunca faço, dada a vista feia e deprimente. Olhei diretamente para o outro lado da rua e vi o pretérito imperfeito acenando pra mim e apontando pro relógio, como quem diz ‘Te espero aqui. Encontre-me quando sair’. Balancei a cabeça afirmativamente, meu estômago balançou junto, só que em ritmo de rumba e o chão sumiu sob meus pés por uma fração de segundo. Eu não tenho medo do desconhecido, mas o conhecido me apavora a ponto de me tirar o equilíbrio. Refeita do assombro, fechei a janela, no que ouvi um baque surdo. Olhei para trás e foi o tempo de ver um beija-flor (seria O beija-flor?) cambaleando para a marquise, procurando um lugar seguro para se recompor do choque contra o vidro. Não estivesse Jung morto há mais de quarenta anos, eu me encarregaria de abotoar o paletó do cretino hoje mesmo.

8 comentários:

  1. Eu me comovo e me calo. Tá sofrendo de hemorragia literária, filha!

    Meu karma é com mariposas. E meu pretérito tá mais que perfeito, morto e enterrado longe de mim e dos jardins do Museu.

    :*

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  2. Sincronicidades são regra pra mim. A ponto de achar que deus curte uma com a minha cara. Requintes de crueldade e detalhes sórdidos não são raros.

    Se fosse comigo, além de tudo, eu ligaria o rádio amanha e começaria a tocar aquela música péssima "beija-flor, que trouxe meu amor..."

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  3. Esses beija-flores de hoje em dia nunca ligam pra marcar um segundo encontro.
    De fato, o que vc falou sobre o beija-flor do Benjamin Button... conrodo plenamente. Não contei pra ninguem o que interpretei, justamente por isso. hahaha
    Joh, nunca ri tanto num post seu.
    meu karma é com pernilongos... eu posso dormir o quão agasalhado for, e outras pessoas (inclua mina marida aqui pelada) nunca sao picadas. Sempre eu.
    Enfim, nao se comparara com o seu beija-flor canalha.

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  4. lembra que eu te falei que meus pais moram num lugar sossegado pra caramba? imagina o tanto de beija-flor que tem por lá. e como meu quarto dava pra copa de uma goiabeira, claro que o alvo preferido deles era o goiaba aqui. e vira e mexe um deles entrava pelo meu quarto e não sabia mais sair. isso quando eles não batiam no vidro e precisavam de socorro imediato. e sempre aquele coraçãozinho disparado como alarme de despertador. disparado como o coração de alguém que vai lendo um texto e vai pensando "poxa, isso parece uma coisa que eu acabei de postar no meu blog".
    sabe?
    beijo, toc querida.

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  5. Você teve a sorte de o pássaro não ter enfiado o bico na sua orelha, minha flor [/semgraça]

    Ainda não vi o Benjamim Butão, aquela roupa vermelho-cheguei do Santa (ui) Claus nunca me enganou e acho que Jung não dá a mínima pra mim, visto que não me lembro que nenhuma sincronicidade recente.

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  6. '..heteros que ouvem Mika.'


    pensarei 293798237893 antes de sair por aí cantarolando Lollipop!
    AHUAHUA vai que pensam algo de mim -q

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  7. Sensacional a frase final sobre Jung e o seu paletó! haha! Como estudante de psicologia e mais especificamente psicologia analítica, gostei do post! haha! Achei o seu blog por intermédio do blog do Gastón! Muito bom! Procurarei visitá-lo mais! Bjs, desculpe a invasão!

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  8. bah, eu pensei na piadinha cretina que já foi feita... mas com requintes de pedreiragem... Vou te poupar pq teu blog tem um nível muito alto pra esse tipo de coisa.

    O_O

    parei

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